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4. Material e métodos

O experimento foi realizado na FZEA-USP, Campus de Pirassununga, utilizando quatro animais da raça Nelore, machos, fistulados no rúmen, com peso médio de 237kg. Os tratamentos consistiram de colheita ruminal por sonda esofagiana e por fístula ruminal, antes e duas horas após a alimentação. Cada animal foi considerado como uma unidade experimental, constituindo quatro unidades experimentais. A ração, fornecida individualmente uma vez ao dia, consistiu de uma mistura de silagem de milho (80%) e concentrado (20%), com a seguinte análise bromatológica: 39,3% de matéria seca, 9,9% de proteína bruta, 24,8% de fibra bruta, 2,76% de extrato etéreo, 4,27% de matéria mineral, 0,36% de cálcio e 0,24% de fósforo. A ingestão média de matéria seca dia foi de 6,18kg. A ração começou a ser ministrada 20 dias antes de se iniciarem as colheitas do líquido ruminal. As colheitas por sonda e por fístula foram realizadas no mesmo animal durante oito dias consecutivos para a obtenção das médias, utilizando uma mangueira flexível de 1,5m de comprimento, com 1,27cm de diâmetro interno e 0,3cm de espessura de parede, arredondada na ponta, com o orifício da extremidade totalmente aberto e sem furos nas laterais, conectada a uma bomba de vácuo. Entre as colheitas, a mangueira foi lavada e lubrificada com vaselina nos primeiros 30cm. Foram colhidos 200ml de líquido ruminal por tratamento. Filtrado em gaze e medido o pH, o líquido foi congelado para posteriores análises. Foram realizadas as análises de ácidos graxos voláteis por cromatografia gasosa (FINNIGAN 9001-USA), nitrogênio amoniacal pelo método colorimétrico segundo proposição de Kulasek (1972) adaptado por Foldager (1977), cálcio e magnésio em espectrofotômetro de absorção atômica (PERKIN ELMER -USA), sódio e potássio por espectrofotômetro de chama (ANALYSER - BRASIL) e fósforo determinado pelo método colorimétrico (Fiske, Subbarow, 1925). Foram medidos em todas as colheitas o número de vezes de entupimento da sonda e o tempo de colheita, começando a contar o tempo no início da introdução da sonda até completar 200ml de amostra de líquido ruminal. A análise estatística foi realizada utilizando-se o Proc Means do programa computacional Statistical Analysis System (SAS, 1985) para dados pareados, considerando o nível de significância de 5% e tendência a 10%.

5. Resultados e discussão

Todas as variáveis estudadas no líquido ruminal apresentaram diferenças entre os métodos de colheita ruminal (Tab.1). O líquido ruminal colhido por fístula antes da alimentação apresentou maior concentração de ácidos graxos voláteis (AGVs), maior porcentagem de ácido propiônico, menor relação entre as porcentagens dos ácidos acético e propiônico (AC/PRO) e menor pH do que o colhido por sonda esofagiana. O líquido ruminal colhido por fístula depois da alimentação apresentou maior concentração de AGVs, maior porcentagem de ácido butírico, maior concentração de nitrogênio amoniacal, menor porcentagem de ácido acético e menor pH do que o colhido por sonda esofagiana. Tanto o líquido ruminal colhido por fístula como o por sonda esofagiana antes da alimentação apresentaram menor concentração de AGVs, menor porcentagem de ácido propiônico, menor concentração de nitrogênio amoniacal, maior porcentagem de ácido butírico, maior relação AC/PRO e maior pH do que o colhido após a alimentação.

Geishauser e Gitzel (1996) também encontraram no líquido ruminal colhido por fístula maior concentração de ácidos graxos voláteis totais, de ácido propiônico e maiores concentrações de cálcio, fósforo, magnésio e potássio, porém não verificaram variações de pH e amônia. Os autores sugeriram que essas diferenças podem ser atribuídas ao local de colheita. Por fístula a colheita se faz no saco dorsal e por sonda no saco ventral. Resultados similares também foram encontrados por Oliveira et al. (1999), segundo os quais o líquido ruminal colhido por sonda esofagiana apresentou maior concentração de ácido acético e menores concentrações de ácido propiônico, ácido butírico, ácidos graxos voláteis totais e nitrogênio amoniacal. Os autores atribuíram esses resultados à colheita na região ventral do rúmen, cujos valores foram inferiores aos encontrados nas regiões cranial e dorsal do rúmen, exceto para a concentração de ácido acético. Wohlt et al. (1976) também verificaram maior concentração de nitrogênio amoniacal na região dorsal do rúmen, sugerindo que o local e o tempo de colheita da amostra em relação à alimentação são variáveis importantes a serem consideradas quando se quer determinar a concentração de nitrogênio amoniacal em amostras de líquido ruminal.

Lavezzo et al. (1988) encontraram maior valor do pH e menor de nitrogênio amoniacal no líquido ruminal colhido por sonda, sugerindo a contaminação por saliva no momento da colheita, que aumentou o pH e diluiu o nitrogênio amoniacal da amostra. Citaram tempo de colheita por sonda de 3 a 5 minutos por animal. Neste experimento o tempo médio de colheita foi de 2'47", apresentando pouca saliva. Ao passar a sonda esofagiana com a cabeça do animal abaixada, observou-se melhor penetração da sonda, o que resultou em colheita com menor secreção salivar.

Quanto à concentração de minerais (Tab. 2), o líquido ruminal colhido por fístula antes da alimentação apresentou maiores concentrações de cálcio, fósforo e potássio, enquanto que o colhido por fístula depois da alimentação maior concentração de cálcio. O líquido ruminal colhido por fístula antes da alimentação apresentou menores concentrações de cálcio e magnésio e maior concentração de fósforo do que o colhido após a alimentação. O líquido colhido por sonda esofagiana antes da alimentação apresentou menores concentrações de cálcio e potássio do que o colhido após.

A saliva contém grande quantidade de bicarbonato, sódio e fósforo, seguido de concentração um pouco menor de potássio e pequena de cálcio e magnésio (Church, 1993). Segundo Mcdowell (1992), a saliva fornece fósforo para o rúmen e intestinos e o fósforo é visto como tampão para ácidos graxos voláteis. No rúmen há também quantidade significativa de potássio proveniente da saliva. Wohlt et al. (1976) citam também que a saliva pode contribuir para o aumento da concentração de nitrogênio amoniacal no rúmen. Neste experimento, o valor mais elevado do pH encontrado no líquido colhido por sonda pode ser atribuído ao local de colheita e à menor concentração de ácidos graxos voláteis do que à presença de saliva no rúmen, pelo fato de não haver diferença quanto à concentração de sódio no líquido colhido pelos dois métodos e por apresentar menor concentração de fósforo e potássio, que são minerais com alta concentração na saliva. O mesmo para a concentração de nitrogênio amoniacal, que se apresentou em menor concentração no líquido colhido por sonda depois da alimentação.

Outro aspecto na colheita de líquido ruminal é a hora da colheita em relação à alimentação, sendo observado diferenças nas variáveis estudadas entre a colheita antes e depois da alimentação. Dependendo da variável que se quer estudar, a decisão da hora da colheita de líquido ruminal em relação à alimentação pode influenciar nos resultados do estudo, observação já relatada por Wolht et al. (1976).

O número de vezes em que ocorreu entupimento da sonda durante a colheita foi maior no líquido colhido antes da alimentação (Tab. 3), atribuído à maior retenção da parte sólida do conteúdo que passa mais lentamente pelo rúmen. Como a colheita foi feita pela manhã, antes da alimentação, houve maior dificuldade nessa hora de colheita.

O tempo total de colheita foi maior por sonda esofagiana (2'10") do que o por fístula (0'40"), tanto antes como depois da alimentação. Geishauser e Gitzel (1996), em carneiros, não observaram entupimento da sonda esofagiana nas colheitas. O tempo de introdução da sonda variou de 8 a 40 segundos, e para colher 200ml de amostra, 4 a 15 segundos, com tempo total de colheita de 12 a 55 segundos, utilizando sonda com o mesmo diâmetro do deste trabalho.

6. Conclusões

Os métodos de colheita de líquido ruminal influenciaram todos os parâmetros estudados, exceto a concentração de sódio. Sugere-se trabalhar com colheitas por fístula ruminal após a administração do alimento em experimentos que se queira observar os primeiros efeitos dos tratamentos no metabolismo do rúmen. Com conhecimento prévio da ação do tratamento no metabolismo ruminal e sendo utilizado um tratamento-controle, a colheita por sonda esofagiana poderá ser utilizada, mas apenas para experimentos em que os parâmetros ruminais sejam o enfoque secundário.

7. Referências bibliográficas

CHURCH, C.D. El Ruminante. Fisiologia digestiva y nutrición. Zaragoza: Editora Acribia, 1993. 641p.

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GEISHAUSER, T.; GITZEL, A. A comparison of rumen fluid sampled by oro-ruminal probe versus rumen fistula. Small Ruminant Res., v.21, p.63-69, 1996.

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M.S.V. SallesI; M.A. ZanettiI; G.R. Del ClaroII; A.S. NettoIII; R. FranzolinI - mzanetti[arroba]usp.br

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