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Alta eficiência da seleção usando produções de lactações parciais foi obtida por TANDON e HARVEY (1984), WILMINK (1987) e RIBAS e PEREZ (1990), sendo observada tendência de aumento na mesma com o avanço no estádio da lactação.

Entretanto, pode-se questionar se animais selecionados com base em registros de produções aos 150 dias não terão menores produções, em lactações subseqüentes, em relação àqueles selecionados com base em lactações completas. Segundo VAN VLECK e HENDERSON (1961), existem provas suficientes mostrando que a seleção utilizando lactações parciais não afeta a produção nas lactações posteriores.

O objetivo deste trabalho foi comparar a confiabilidade da predição do valor genético e o ganho genético obtido em avaliações utilizando-se a produção de leite até 305 dias e as produções de lactações projetadas.

4. Material e métodos

A descrição dos dados estudados bem como a metodologia aplicada foram apresentados por Melo et al. (2000).

As avaliações genéticas foram obtidas pelo sistema MTDFREML (BOLDMAN et al., 1995), no qual os dados são analisados sob modelo animal (VAN VLECK, 1992) e usa o método da máxima verossimilhança restrita. Utilizou-se um critério de convergência de 10-9.

Assumindo intensidade de seleção igual a 1 em todas as produções consideradas, confiabilidade média da avaliação dos 145 touros em cada uma destas produções, desvio-padrão genético aditivo da P305d e intervalo de gerações de 5,40; 5,57; 5,74; 5,82; e 6 anos, respectivamente, para as produções estimadas pela projeção de uma porcentagem das lactações a partir de 91, 151, 211 ou 241 dias e para a produção de leite até 305 dias, calculou-se o ganho genético anual (DG) para P305d e PE pela projeção de uma porcentagem das lactações.

Para obter os intervalos de gerações das PE, considerou-se intervalo de gerações de 6 anos para P305d e descontaram-se os dias de projeção das lactações nas PE. Assim, o intervalo de gerações (IG), em anos, foi calculado utilizando a seguinte equação:

em que: 72 é o IG em meses de P305d e xi, o estádio da lactação a partir do qual as lactações foram projetadas (xi = 90, 150, 210 ou 240 dias).

Para estimar a resposta correlacionada (RC) na produção de leite até 305 dias (t), quando a seleção foi realizada por intermédio das PE pela projeção de uma porcentagem das lactações (t'), foram usados os valores acima mais as correlações genéticas estimadas entre P305d e as produções estimadas (PE). Foram avaliadas também as eficiências relativas pela seleção indireta (ER).

5. Resultados e discussão

Nas Tabelas 1 e 2, estão apresentadas as médias, os desvios-padrão e as amplitudes das confiabilidades e da variância dos erros de predição das estimativas dos valores genéticos obtidos com as produções de leite estimadas e a P305d.

Nota-se que as médias das confiabilidades das estimativas dos valores genéticos obtidos utilizando as PE pela projeção de porcentagem de lactações, tanto para duração da lactação observada como para 305 dias de lactação, são semelhantes àquela obtida para os valores genéticos obtidos utilizando a P305d. A maior diferença entre as médias de confiabilidade para os valores genéticos obtidos nas avaliações pela produção até 305 dias e as confiabilidades para os valores genéticos obtidos nas avaliações utilizando as produções estimadas foi de 0,07. Estes resultados são similares aos obtidos por TANDON e HARVEY (1984), utilizando registros de primeiras lactações de vacas Holandesas, os quais constataram não haver muita diferença nas avaliações quanto ao tipo de registros de produção utilizados.

Quanto maior a estimativa da variância genética aditiva, menor a fração e, conseqüentemente, maior a confiabilidade das estimativas dos valores genéticos, o que é verdadeiro se a variância do erro de predição (PEV) não se alterar ou sua alteração for proporcionalmente menor que a da , fato verificado neste trabalho (Tabelas 1 e 2). Estes resultados contrariam os obtidos por TANDON e HARVEY (1984), que verificaram pequena perda na precisão das estimativas do mérito genético de touros, quando usaram, para avaliação genética dos touros, registros de produção de 150 dias de lactação, projetados para 305 dias.

Segundo RIBAS e PEREZ (1990) e SETHI e JAIN (1993), é necessário número maior de filhas por touro para se obter a mesma precisão em avaliações, utilizando-se produções de lactações projetadas em relação às avaliações utilizando produções de leite até 305 dias de lactação. Os resultados obtidos no presente trabalho evidenciam ligeira melhoria nas precisões das estimativas com base nas PE em relação àquelas com base em P305d. Este fato, que à primeira vista parece contraditório, pode ser explicado pelas maiores estimativas de variância genética obtidas para as PE em relação à obtida para P305d.

O ganho genético pode ser usado como critério para comparar o progresso adicional na produção de leite das filhas, pela seleção dos touros com base na produção de leite até 305 dias ou nas produções de lactações parciais projetadas.

Na Tabela 3, estão apresentados o ganho genético anual para a P305d e as PE pela projeção de porcentagem das lactações (DG), a resposta correlacionada na produção de leite até 305 dias, quando a seleção é realizada com base nos valores genéticos previstos com base nas produções estimadas pela projeção de uma porcentagem das lactações RCtt´, e a eficiência relativa pela seleção indireta (ER).

Observa-se que o ganho genético anual pela seleção dos touros utilizando as produções estimadas pela projeção de uma porcentagem das lactações foi, em média, 24,27% maior que o ganho genético anual da P305d, quando as lactações foram projetadas para a duração da lactação observada, e 25,65% superior, quando as lactações foram projetadas para 305 dias.

Entretanto, as maiores diferenças estão entre o DG das lactações projetadas a partir de 91, 151 e 211 dias, em que o DG é maior que o obtido para P305d. A eficiência relativa é uma medida da mudança genética esperada na produção de leite até 305 dias, quando a seleção baseia-se em produções de lactações projetadas. Tomando a unidade como eficiência relativa padrão, nota-se que a ER para a seleção realizada com base em lactações, projetadas a partir de 91, 151, 211 ou 241 dias para duração da lactação observada, foi, em média, 4,75; 4,75; 4,00; e 0,75% superior à padrão, respectivamente. Pela projeção das lactações a partir de 91, 151, 211 ou 241 dias para 305 dias, a ER foi, em média, 3,50; 6,75; 5,50; e 0,25% superior à padrão, respectivamente.

Assim, teoricamente, pode-se inferir que a seleção dos touros com base em produções projetadas proporciona maior DG na produção de leite até 305 dias que a seleção com base nesta produção. Entretanto, é importante ressaltar que a ER observada para várias produções estimadas, especialmente pela projeção das lactações a partir de 241 dias, é igual à unidade, indicando que a seleção dos touros com base nestas produções eqüivale àquela obtida quando a seleção é praticada com base na produção de leite até 305 dias.

Observa-se, ainda, que a projeção de 50 ou 70% das lactações, a partir de 91, 151 ou 211 dias, afeta mais o ganho genético que os demais percentuais de projeção.

Existem poucos estudos sobre a eficiência de seleção, quando são usadas lactações parciais como critério de seleção. Entretanto, MADDEN et al. (1995), LAMD e MCGILLIARD (1967), WILMINK (1987) e RIBAS e PEREZ (1990) observaram alta eficiência de seleção por lactações parciais, porém sempre inferior à unidade. Os autores supracitados observaram, ainda, tendência de aumento na eficiência da seleção, com o avanço no estádio da lactação, resultado que contradiz o observado neste estudo, em que a eficiência relativa pela seleção indireta foi sempre superior à unidade, observando-se tendência de redução com o avanço do estádio a partir do qual as lactações foram projetadas. Mais uma vez os resultados obtidos no presente estudo estão relacionados às maiores estimativas de variância genética obtidas para as produções estimadas em relação à obtida para P305d.

6. Conclusões

O uso das produções de leite projetadas é extremamente viável nas avaliações genéticas, pois leva a ganhos genéticos anuais, bem como a confiabilidades, similares àqueles obtidos para a produção de leite até 305 dias.

7. Referências bibliográficas

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Cláudio Manoel Rodrigues de Melo2, Tarcisio de Moraes Gonçalves3, Mário Luiz Martinez4, Rui da Silva Verneque4, Antonio Ilson Gomes de Oliveira5, Rilke Tadeu Fonseca de Freitas6 - rsverneq[arroba]cnpgl.embrapa.br

1 Parte da Dissertação de Mestrado em Zootecnia.

2 Doutorando em Zootecnia - USP.

3 Professor Assistente da UFLA. e.mail: tarcisio[arroba]ufla.br

4 Pesquisador da Embrapa Gado de Leite. |E.mail: rsverneq[arroba]cnpgl.embrapa.br

5 Professor Titular Aposentado da UFLA - Bolsista do CNPq. e.mail: ailson[arroba]ufla.br

6 Professor Adjunto da UFLA. e.mail: rilke[arroba]ufla.br



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