Heterogeneidade de variância e avaliação genética de bovinos da raça Holandesa no Brasil



Artigo original: "Rev. Bras. Zootec., Ago 2000, vol.29, no.4, p.1050-1059. ISSN 1516-3598"

1. Resumo

Dados de 109.200 lactações foram utilizados para verificar o efeito da heterogeneidade de variância sobre a avaliação genética de vacas e touros da raça Holandesa criados no Brasil. A produção total de leite ajustada para idade adulta foi usada para classificar os rebanhos em três classes de desvio-padrão fenotípico: baixo (<1427 kg), médio (entre 1427 kg e 1625 kg) e alto (>1625 kg). Dados das primeiras lactações foram analisados considerando a produção total de leite ajustada para idade adulta (TOTAJU) e produção total de leite ajustada para idade adulta e para 305 dias de lactação (TAJU305). As produções de leite médias e os componentes de variância genética, residual e fenotípica aumentaram com o aumento do desvio-padrão da classe. Para as classes de baixo e médio, baixo e alto e médio e alto desvios-padrão, as correlações genéticas foram 0,97; 0,89; e 0,91 para TOTAJU e 0,97; 0,92; e 0,96 para TAJU305, respectivamente. As correlações entre os valores genéticos para as classes de baixo, médio e alto desvios-padrão obtidos nas análises conjuntas (considerando como diferentes a expressão da característica nas três classes) e os obtidos na análise geral (todas as classes como única característica) foram próximas à unidade. Entretanto, os reprodutores apresentaram maiores valores genéticos em rebanhos das classes de alto desvio-padrão. Na avaliação genética, é importante considerar a variabilidade entre rebanhos, pois, sob seleção, as classes mais variáveis contribuíram com a maior parte dos animais, e a avaliação genética do animal poderia ser função não apenas do seu potencial genético, mas também do ambiente no qual suas progênies expressaram a característica.

Palavras-chave: bovinos de leite, componente de variância, parâmetro genético

Heterogeneity of variance and genetic evaluation of Holstein cattle in brazil

2. Abstract

Data of 109.200 lactations were used to verify the effects of heterogeneity of variance on genetic evaluation of cows and bulls of Holstein breed raised in Brazil. Total milk production adjusted for adult age was used to classify the herds among three classes of phenotypic standard deviation: Low (<1427 kg), medium (between 1427 kg and 1625 kg) and high (>1625 kg) classes. Records from the first lactation were analyzed for total milk production adjusted for adult age (TOTAJU) and for adult age and 305-day lactation length (TAJU305). Milk yield means, and genetic, residual and phenotypic variance components increased from the low to the high standard deviation classes. Genetic correlation's among milk production were .97, .89, .91 for TOTAJU and .97, .92, .96 for TAJU305, respectively, between low and medium, low and high and medium and high classes. Correlation's among genetic values for the low, medium and high standard deviation classes obtained from multitrait analyses (considering the expression of the trait in the three classes as different) and those obtained from the general univariate analysis (all classes as a unique trait), were all close to one. However, the bulls presented high genetic values in herds from high standard deviation classes. In genetic evaluation programs, it is important to consider differences in variability among herds, otherwise, under selection, the most variables herds would contribute with the majority of the animals, and the genetic evaluation of the animals could be more a function not only from its genetic potential, but also from its environment where the progenies expressed their traits.

Key Words: dairy cattle, genetic parameter, variance component

3. Introdução

A possibilidade da existência de heterogeneidade de variância em relação ao ambiente não é nova para os melhoristas. LUSH (1945) recomendou que os animais deveriam ser avaliados nos ambientes em que seriam usados. HAMMOND (1947) concluiu que, para maior acurácia, a seleção deveria ser praticada em ambientes melhores, devido à maior expressão dos genes de interesse. FALCONER (1952) introduziu o conceito de correlação genética entre as manifestações fenotípicas da mesma característica em ambientes diferentes. ROBERTSON et al. (1960) identificaram a necessidade de detectar se as herdabilidades difeririam entre os ambientes e se a classificação dos touros seria influenciada.

Se a heterogeneidade de variância for ignorada, embora ela exista, a produção das filhas de determinado reprodutor será ponderada na proporção dos desvios-padrão dos rebanhos nos quais essas filhas foram criadas. O resultado é que as produções das filhas, oriundas de rebanhos mais variáveis, influenciarão mais a avaliação do reprodutor do que as produções das filhas oriundas de rebanhos menos variáveis. No caso das filhas dos diversos reprodutores serem distribuídas uniformemente entre os rebanhos com variação diferente, nenhum vício nas avaliações seria observado. Entretanto, se as herdabilidades também diferem entre rebanhos, a acurácia da avaliação seria reduzida, em razão da não-consideração destas diferenças.

A estimação de componentes de variância para gado de leite tem incluído pesquisas sobre homogeneidade de variância entre classes de rebanho-ano-estação. Ainda que o número de dados em cada rebanho-ano-estação seja, geralmente, insuficiente para realizar a estimação de componentes de variância dentro de rebanho, rebanhos similares têm sido agrupados e os componentes, obtidos, separadamente, para cada grupamento (HILL et al.,1983; MIRANDE e VAN VLECK, 1985). Estes e outros estudos evidenciaram a existência de heterogeneidade de variâncias entre ambientes.

Assumindo que diferenças genéticas aditivas são causadoras de parte das diferenças em variação entre rebanhos, este estudo objetivou verificar o efeito da heterogeneidade de variância da produção de leite entre rebanhos sobre a avaliação genética e a classificação de vacas e touros da raça Holandesa, no Brasil.


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