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4. Material e métodos

O experimento foi conduzido no Campo Experimental de Coronel Pacheco, pertencente a Embrapa Gado de Leite, no Município de Coronel Pacheco, MG, em uma área de pastagem de capim-elefante usada em pastejo rotativo desde 1988. Foram utilizadas 12 vacas mestiças Holandês ´ Zebu recém-paridas, seis vacas por tratamento e três por repetição de área. As médias de produção de leite no início do trabalho foram de 12,9 e 13,0kg/vaca/dia, as de peso vivo de 470 e 459kg e as de dias pós-parto de 52 dias para os tratamentos sem e com concentrado, respectivamente.

O experimento teve início em 26 de dezembro de 1991 e terminou em 30 de junho do ano seguinte.

O delineamento experimental foi em blocos ao acaso, sendo os blocos formados com base na produção de leite, data de parto, grau de sangue e no peso vivo das vacas no início da lactação.

Os tratamentos foram: pastagem de capim-elefante sem suplementação de concentrado (SC) e com o fornecimento de 2kg de concentrado/vaca/dia (CC). O concentrado oferecido foi composto de 65% de milho grão moído, 20% de farelo de trigo, 10% de farelo de algodão, 2% de uréia, 2% de calcário e 1% de mistura mineral. A composição química média do concentrado na base da matéria seca foi de 20,6% de proteína bruta, 81,5% de digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS), 32% de fibra em detergente neutro e 82% de matéria seca.

A área foi dividida em 44 piquetes de 606m2 cada um, 22 para cada tratamento, representando duas repetições de área, constituída cada uma de 11 piquetes. A pastagem foi adubada com 200 kg/ha/ano de N e de K2O, fracionados em três parcelas iguais; o calcário dolomítico e o fósforo foram aplicados uma única vez no início das chuvas, usando-se 1.000 e 40 kg/ha/ano de P2O5, respectivamente. Os piquetes foram manejados para se obter altura de resíduo pós-pastejo do capim-elefante em torno de 90-100cm.

As estimativas da disponibilidade e da qualidade de forragem foram feitas de janeiro a abril, um dia antes da entrada dos animais nos piquetes, usando-se a técnica do pastejo simulado (Aroeira et al., 1999). Essas estimativas foram realizadas em touceiras representativas, com disponibilidades alta e baixa, resultando em quatro amostras mensais por tratamento. Da forragem colhida, subamostras foram retiradas para a determinação de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN) e em detergente ácido (FDA).

A partir de 25 de maio as vacas passaram a receber suplementação de cana-de-açúcar picada, corrigida com 1% de uréia, à vontade no intervalo entre as ordenhas da manhã e da tarde. As médias de consumo de cana-de-açúcar in natura foram de 27,5 e 25,0kg/vaca/dia para os tratamentos SC e CC, respectivamente.

As vacas foram ordenhadas manualmente sem a presença do bezerro duas vezes ao dia, às 6 e 14 horas. Entre as duas ordenhas do dia, elas permaneceram em currais separadas por tratamento, onde tinham acesso à sombra, água e mistura mineral à vontade.

Foram pesadas a cada 14 dias, logo após a ordenha da manhã. As amostras individuais de leite para a determinação de gordura, proteína e extrato seco total foram coletadas a cada 14 dias.

Usou-se análise de variância em um modelo que incluiu os efeitos de blocos (6) e tratamentos (2). Foram consideradas estatisticamente diferentes as médias dos tratamentos quando tal efeito foi significativo ao nível de 5% de probabilidade.

5. Resultados e discussão

Na Tab. 1 são apresentados os dados médios de composição química de amostras de capim-elefante. Não houve diferença (P>0,05) entre os tratamentos com relação aos teores de matéria seca, proteína bruta, fibra em detergente neutro e em detergente ácido. Foi observado teor médio de matéria seca de 20% para os dois tratamentos. Deresz (1994) e Deresz et al. (2001) observaram valores de 17,5% e 15,8% de matéria seca em amostras de capim-elefante simulando pastejo e manejado com 30 dias de descanso, respectivamente. Os dados deste trabalho foram semelhantes aos dos autores citados.

Os teores de proteína bruta observados nos dois tratamentos foram semelhantes àqueles relatados por Deresz (1994) e Deresz (2001) para o capim-elefante adubado com 200 kg/ha de nitrogênio e manejado com 30 dias de descanso.

Com relação aos teores de FDN e FDA, foram observados valores médios de 70% e 40%, respectivamente. Estes resultados também são próximos aos observados por Deresz (1994) e Deresz (2001) e Deresz et al. (2001). É bom salientar que os teores de MS, PB, FDN e FDA são de amostras de rebrota do capim-elefante com 30 dias de idade.

Os valores de disponibilidade de matéria seca por hectare obtidas por meio do pastejo simulado são apresentados na Tab. 2. Houve efeito de tratamento e de mês de amostragem (P<0,05) para a disponibilidade de matéria seca por hectare. Os maiores valores ocorreram no mês de janeiro para o tratamento CC e os menores no mês de fevereiro para o tratamento SC. Essa produtividade representa uma disponibilidade de 20,7 e 25,9kg/vaca/dia no mês de janeiro e 16,2 e 17,2kg/vaca/dia de matéria seca no mês de fevereiro, para os tratamentos sem e com concentrado, respectivamente, considerando os valores de disponibilidade de matéria seca por hectare e a taxa de lotação de 4,5 vacas por hectare. Os menores valores de disponibilidade de matéria seca por hectare em fevereiro podem estar relacionados à menor precipitação pluviométrica ocorrida no mês. As estimativas de disponibilidade de matéria seca por hectare indicam que o consumo de matéria seca não foi o fator que limitou a produção de leite das vacas durante o período avaliado. Essas estimativas são maiores que as observadas por Soares et al. (1999) e Deresz (2001). Observa-se que a estimativa de disponibilidade média mensal de matéria seca por hectare e aquela referente ao total do período por hectare foi menor (P<0,05) no tratamento sem suplementação, indicando que a suplementação da pastagem com concentrado teve efeito sobre a disponibilidade de forragem ao longo dos meses avaliados. Isso pode explicar, em parte, a maior disponibilidade de matéria seca no tratamento com suplementação concentrada.

As estimativas de disponibilidade observadas nos diferentes meses do ano parecem bastante elevadas em relação às observadas por Deresz (2001) e Deresz et al. (2001). Isso pode ser atribuído em parte às condições climáticas ocorridas durante esse período, visto que houve variação (P<0,05) entre os meses estudados. Valores menores foram observados por Soares et al. (1999) e Aroeira et al. (1999).

Na Tab. 3 são apresentadas as produções médias diárias de leite não-corrigido e corrigido para 4% de gordura. Houve diferença (P<0,05) entre tratamentos tanto para o leite não-corrigido como para o corrigido. A diferença média diária para o leite corrigido entre os dois tratamentos foi de 0,9kg a favor do tratamento CC. Houve resposta média de 0,45kg de leite para cada 1kg de concentrado fornecido, embora o teor de nutrientes em termos de proteína bruta e nutrientes digestíveis totais contido em cada 1kg de concentrado fosse suficiente para produzir 2kg de leite. O que chama a atenção neste trabalho é a diferença mínima na produção média de leite entre o tratamento SC e CC. Alvim et al. (1997) observaram 1,0kg de diferença média para vacas da raça Holandesa manejadas em pastejo rotativo em pastagem de coast-cross, enquanto que Deresz et al. (1994) e Deresz (2001) encontraram, em média, 0,6kg de leite para cada 1,0 kg de concentrado fornecido, com vacas em pastagem de capim-elefante. Os resultados observados neste trabalho são bastante próximos àqueles relatados na literatura para vacas mestiças Holandês ´ Zebu de diferentes graus de sangue, com bom potencial de produção de leite (Cóser et al., 1999; Deresz, 2001).

Houve diferença (P<0,05) entre tratamentos quanto ao teor de proteína bruta do leite, sendo o teor mais elevado no tratamento que recebeu 2kg de concentrado por vaca por dia. Entretanto, não houve diferença (P>0,05) entre tratamentos quanto aos teores médios de gordura e de estrato seco total. As vacas do tratamento CC produziram leite com maior teor de proteína. Bachman (1992) discute o mecanismo de ação envolvido no aumento do teor de proteína do leite. Os teores de gordura, proteína e extrato seco total encontrados neste estudo são semelhantes aos obtidos por Deresz (2001) e Deresz et al. (2001).

Na Fig. 1 são apresentados os dados de produção média de leite corrigido para 4% de gordura. Chama a atenção a pequena resposta em leite para cada 1kg de concentrado fornecido, fato já observado por Aronovich et al. (1965), Valle et al. (1987) e Deresz (2001).

Na Fig. 2 são apresentados os dados médios de peso vivo das vacas. Nos dois tratamentos os animais ganharam peso ao final do período estudado, embora nos primeiros 60 dias tenha havido períodos curtos de perda de peso. Isso sugere que a forragem ingerida forneceu os nutrientes necessários para a produção média de leite sem a necessidade de mobilização de reservas corporais. É bom salientar que ao se considerar todo o período experimental, a variação média de peso vivo foi semelhante entre os tratamentos.

Não houve diferença (P>0,05) entre tratamentos quanto ao ganho médio diário das vacas durante o período avaliado. O ganho médio diário foi de 211 e 244g por vaca para os tratamentos SC e CC, respectivamente. Resultados de ganho médio diário semelhantes foram observados por Deresz (2001), ao trabalhar com vacas mestiças Holandês ´ Zebu em pastagem de capim-elefante.

6. Conclusões

Os valores de disponibilidade de matéria seca por hectare e a qualidade da pastagem selecionada pelas vacas durante a época das chuvas foram suficientes para atender às exigências de mantença e produção (13kg/vaca/dia) de leite de vacas mestiças Holandês ´ Zebu com esse potencial de produção de leite no início da lactação. Vacas com esse potencial de produção de leite podem ser manejadas em pastagem de capim-elefante na taxa de lotação de 4,5 vacas/ha, sem suplementação de concentrado durante a época das chuvas, sem que haja perda de peso vivo. A suplementação da pastagem de capim-elefante com concentrado durante a época das chuvas não foi vantajosa por causa da pequena resposta na produção de leite, isto é, menos de 0,5kg de leite para cada 1kg de concentrado fornecido. A produção de leite observada não foi proveniente da mobilização de reservas corporais pelo fato de as vacas ganharem peso durante o período experimental.

7. Referências bibliográficas

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